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Martinismo Livre

"Nosso lembrado Irmão Augustin Chaboseau escreveu algumas notas sobre o que chamou de sua “Iniciação” pela sua tia Amélia de Boisse-Montemart, que não deixam a menor dúvida a respeito, tratava-se unicamente da transmissão oral de um ensinamento particular e de certas compreensões das leis do universo e da vida espiritual, o que em nenhum caso pode-se considerar uma iniciação ritualística propriamente dita. As linhas que uniram Augustin Chaboseau, Papus e outros e que provém de Saint-Martin são, com efeito, linhas de afinidades espirituais...
É justamente neste ponto que aparece a profunda contradição existente, de um lado, entre o desejo de liberdade interior que deve desprender-se de todo formalismo para permitir à personalidade espiritual estabelecer-se e definir-se fora de toda classe de coletividades e, de outro lado, esta espécie de desmentido ao anterior que parecem aportar certos ocultistas dos fins do século XIX, ao criar suas associações, Ordens e Sociedades.
Existe uma qualidade de alma que caracteriza essencialmente o verdadeiro Martinista, é aquela afinidade entre espíritos unidos por um mesmo grau em suas possibilidades de compreensão e adaptação, por um mesmo comportamento intelectual, pelas mesmas tendências, de tudo o qual se segue a constatação obrigatória de que o Martinismo está composto, exclusivamente, de seres isolados, solitários, que meditam no silêncio de seu gabinete, buscando sua própria iluminação.
Cada um destes seres tem o dever, uma vez que adquiriram o conhecimento das leis do equilíbrio, de transmitir a compreensão adquirida ao seu redor, a fim de que aqueles que forem chamados a compreender, participam daquilo que ele cria, por sua vida espiritual ou pela verdade que encerra. É aqui, então, que intervém a “missão de serviço” do Martinismo e é somente neste sentido que esta corrente espiritual especial encontra seu lugar na Tradição Ocidental.
E isto é tão verdadeiro que sempre se manteve nos diferentes Ramos Martinistas, o regime da Iniciação Livre, em forma paralela àquela que se conferia nas Lo­jas, como uma recordação daquela liberdade individual de que dispunha todo verdadeiro Martinista e que, em princípio, está por cima de toda “Obediência”.”
Em conseqüência, existe uma grande contradição entre o espírito digno e livre do nosso Venerável Mestre Saint-Martin, de seus sucessores, os “Superiores Incógnitos”. e a atitude de alguém que se sentiu o exclusivo depositário da Tradição do Filósofo Desconhecido, declarando-se possuidor da categoria de regulador supremo desta Iniciação e o único Martinista regular, excluindo a todos os que não o seguissem.
Ainda mais, devemos recordar que cada Filósofo Desconhecido, Livre Iniciador ou Presidente de Grupos ou Lojas Martinistas pode dar à sua coletividade a orientação espiritual que julgue mais conveni­ente, de acordo com sua consciência, conhecimento e experiência.
Sinceramente desejo, em razão desta circunstância, que o Martinismo volte a ser o que sempre devia ter sido: uma simples associação de espíritos unidos pelas mesmas aspirações espirituais e guiados pelas mesmas investigações, sob a luz de YHSVH... fora de toda e qualquer preocupação de Ordem ou Obediência.
O Martinismo é essencialmente Cristão*. Não se pode conceber um Martinista que não seja um fiel discípulo de YHSVH, o Reconciliador, Encarnação do Verbo! Porém, parece que um grande número de Martinistas não esteve, ou não está compenetrado deste espírito perfeitamente universal na mais ampla significação do termo. Desejando singularizar-se, particularizar-se, desejando presidências, Grão-Mestrados, títulos, graus e honras, em nome de um Filósofo no qual a modéstia e a sensibilidade eram proverbiais, parecem ter esquecido um dos primeiros princípios ou preceitos cristãos... "

Escrito pelo Irmão Jean Chaboseau



*Cristão, não cristista.

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