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Nota Sobre a História do Martinismo


O Movimento espiritualista iniciado por Martinez de Pasqually (1727-1774) na segunda metade do século XVIII, continuado por Louis Claude de Saint-Martin, o "Filósofo Desconhecido" (1743-1803), e após por Jean-Baptiste Willermoz (1730-1824), difundiu-se na França, na Alemanha e na Rússia durante todo o século seguinte. Esse movimento espiritualista sintetiza-se na "senda interior", segundo a doutrina de Saint-Martin, que não procurava senão "Homens de desejo" como discípulos.
A doutrina do Filosofo Desconhecido corresponde a uma adaptação dos ensinamentos de Martinez de Pasqually e de Jacob Boehme (1575-1624). Saint-Martin estava aproximadamente com cinquenta anos quando conhece as obras de Boehme, por ocasião de suas constantes viagens a Estraburgo. Nessa cidade, ele teria sido iniciado no esoterismo alemão por Rodolph de Salzmann, um dos discípulos de Gitchel (1638-1710), de Kunrath (1560-1605) e de Boehme, pertencente à Sociedade dos Filósofos Desconhecidos (ou Superiores Incógnitos).
A origem iniciática de Louis Claude de Saint-Martin provém, assim, de duas correntes: a primeira vinda da Escola Martinezista (Martinez de Pasqually) e a outra proveniente do Iluminismo alemão (Jacob Boehme, Khurath e Gitchel). Saint-Martin restabelece a chave ativa da Iniciação Real e sintetiza num sistema iniciático que ele retransmite a seus próprios discípulos na forma mais pura possível.
Assim, por volta de 1880 a chama da Iniciação Martinista encontra-se acesa no seio de várias grupos de Iniciadores Livres, que se multiplicam com o surgimento de jovens ocultistas de talento, tais como Stanislas de Guaita (1861-1897), Papus (Gerard Encausse) (1865-1916), Joséphin Péladan (1859-1918), Barlet (1838-1921) e tantos outros iniciados que revigoraram o movimento espiritualista restabelecido por Saint-Martin.
Os Iniciadores Livres de 1880/1890 provém de dois iniciados diretos de Louis Claude de Saint-Martin:
o primeiro grupo vem por intermédio do Abade de Lanoue, isto é, na ordem: Antoine Hennequin, Henri de la Touche, Adolphe Desbarolles, Amélie de Boisse-Mortemart e Augustin Chaboseau;
o segundo grupo de iniciadores dessa época origina-se de Chaptal, ou seja, um Iniciador cujo nome ignora-se, e Henri Delaage, que inicia Papus em 1882. A independência dos Iniciadores Livres permitiu o desenvolvimento considerável da Sociedade, sem o aumento correspondente das tarefas administrativas. Entretanto, "o defeito da organização Martinista, observou Papus, provém, em nosso modo de entender, da liberdade absoluta outorgada a cada um dos membros da Ordem. Resulta assim, uma série de grupos esparsos, fortemente constituídos do ponto de vista individual, que devem a um dado momento serem suscetíveis de se reunir. É, alias, o que se faz nesse faz nesse momento.
Com efeito, "em 1891, no mês de março, um certo número de Iniciadores Livres reunidos em Assembleia Especial, acentuou Papus, decidiu estabelecer Lojas regulares de Martinistas religadas a um Supremo Conselho, com sede em Paris. O Supremo Conselho será presidido, ad-vitam, pelo Iniciador Papus, renovador da doutrina da ordem." Todo os iniciados Martinistas desejosos de aderir ao movimento deveriam dirigir-se ao Grupo de Estudos Esotéricos (fundado por Papus) ou a seu Iniciador. A Ordem Martinista foi constituída, espontaneamente, por uma associação de Iniciadores Livres.
O Supremo Conselho era composta por Papus, Stanislas de Guaita, Augustin Chaboseau, Barlet, Joséphin Péladan, Paul Sédir, Paul Adam, Chamuel, Julien Lejay, Maurice Barrès, Montière e Jacques Burget, 12 membros ao todo. Barrès e Péladan foram substituídos mais tarde por Marc Haven e Victor Emile Michelet; Marc Haven era genro do Mestre Philippe de Lyon.
Rapidamente várias Grupos e Lojas Martinistas subordinadas ao Supremo Conselho constituíram-se na Europa, na África e nas Américas. Em 1905, Papus decidiu criar a função de Inspetor Geral da Ordem para a Inglaterra e suas colônias, nomeadas para o cargo Teder, que habitava em Londres. Três anos mais tarde, Teder está em Paris, secundando Papus na direção da Ordem Matinista. Eles organizaram em 1908 em Paris um congresso dos Ritos Maçônicos Espiritualistas, com o objetivo de religar a Ordem Martinista à Maçonaria dos Altos Graus do Rito Escocês Rectificado de Jean-Baptiste Willermoz, como Saint-Martin, discípulos de Martinez de Pasqually.
Tal objetivo explica-se pelo fato de que a doutrina de Martinez de Pasqually e de Louis Claude de Saint-Martin está igualmente contida no seio da Maçonaria Retificada reorganizada por Willermoz em Lyon. Em 1914, Papus e o Grão-Mestre do Rito Escocês Retificado da França, Edward de Ribeaucourt, decidem criar no seio do Rito Escocês Retificado, um Grande Capítulo Martinista, composto unicamente por maçons titulares dos Altos Graus, para servir de elo de ligação entre o Martinismo e a Maçonaria Rectificada de Willermoz. Infelizmente, a Primeira Guerra Mundial, a morte de Papus, ocorrida em 1916, e a mudança do Grão-Mestrado do Rito Escocês Retificado impediram a realização desse projeto.
Após a morte de Teder, ocorrida em 1918, Jean Bricaud assumiu o Grão-Mestrado da Ordem Martinista no dia 25 de setembro de 1918. Bricaud fortalece ainda mais a unidade da Ordem na França e no exterior. Ele decide que somente os maçons portadores dos três primeiros graus simbólicos poderiam ingressar no Martinismo e que, para galgar os demais graus, seria necessário possuir os altos graus da Maçonaria.
Bricaud realiza aquilo que Papus certamente deseja fazer, mas descontenta alguns membros do Supremo Conselho que não pensavam da mesma maneira. Foi assim que em 1931 um Supremo Conselho cismático foi criado, tendo em sua direção Augustin Chaboseau, um dos remanescentes do Supremo Conselho de 1891, cuja doutrina distanciava do ensinamento judeu-cristão de Martinez de Pasqually, de Jacob Boehme, de Louis Claude de Saint-Matin e de Jean Baptiste Willermoz, para aliar-se ao Budismo e ao Bramanismo. Em 1945, esse Supremo Conselho dá origens à ordem Martinista Tradicional (OMT).
Outro acontecimento capital na história da Ordem Martinista foi a perseguição a seus membros de parte da polícia alemã, nos anos de ocupação durante a Segunda Guerra Mundial, uma vez as sociedades iniciáticas eram consideradas ilegais (extinção do direito de reunião ). O Grão-Mestre da ordem Martinista era Constant Chevillon, que sucedera a Jean Bricaud no dia 21 de fevereiro de 1934. Chevillon foi fuzilado pela polícia alemã na cidade de Lyon, em França, no dia 25 de março de 1944.
Henri Charles Dupond foi o sucessor de Chevillon na direção da ordem martinista, que possui, então, em sua fileiras, um homem de valor: Philippe Encausse reconstitui, pouco a pouco, a Biblioteca de Papus e os documentos mais importantes da Ordem, dando impulso considerável à mesma, a partir de 1953. Antes de seu falecimento, Dupond transmite o Grão-Mestrado da Ordem Martinista a Philipe Encausse, que é o atual chefe universal da Ordem.
Atualmente, graças ao dinamismo dado por Philipe Encausse, a Ordem Martinista encontra-se representada nos seguintes países (além da França e de seus territórios de ultra-mar): Argélia, Alemanha Federal, Argentina, Bélgica, Brasil, Bulgária, Camarão, Canadá, Império Centro-Africano, Chile, Congo (Brazzaville), República Popular do Congo, Costa do Marfim, Daomé, Egito, Espanha, Estados Unidos da América, Gabão, Grã-Bretanha, Haiti, Itália, Líbano, Madagastar, Marrocos, México, Mônaco, Nigéria, Peru, Portugal, Senegal, Suíça, Tchad, Checoslováquia, Togo, Tunísia, Venezuela, Iugoslávia.

Irm::: André Pitágoras

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