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Sri Sevananda Swami

- Por Swãmi Sarvãnanda - 

Desde a sua temprana infância, foi um superdotado, apresentando características excepcionais de comportamento. Foi um forte, no agir e no sentir, sempre marcado pela paixão do coração. Adolescente ainda, obtém a permissão para ingressar aos estudos superiores, matriculando-se na faculdade de química, o que o conduziu à alquimia... reminiscências do passado. E sempre com classificação máxima. Aos vinte e dois anos de vida já era instrutor, dando palestras aos funcionários do bas fond do cais do porto de Buenos Aires, que o ouviam com respeitoso silêncio, a lhes falar de genes, filosofia e mística.

Caráter “sem temor nem censura”, foi discípulo de seu próprio pai e Mestre, CEDAIOR, aprendendo Astrologia, Astrosofia, Martinismo e Hermetismo, ajudando-o nas suas pesquisas de Astrometereologia e Astrosismologia, na qual sempre acertava por antecedência. Aos vinte e três anos de vida, Yoga e Meditação, orientado pela intuição e com a ajuda dos conhecimentos obtidos de um Yogue alemão, com o qual andou durante meses atravessando o Pampa Argentino a pé. A percepção e lembrança do passado lhes eram inerentes, procurando retransmitir aos seus Discípulos o mesmo carisma, provando-lhes que conhecia seus próprios passados, que às vezes neles acordava. Vivia com intensidade cada dia e hora, retransmitindo com o fogo do entusiasmo do coração aos que dele se aproximavam com corações abertos. Sua mais evidente expressão de ser era a espontaneidade, que definiu em um dos seus escritos: “Meu método se baseia 200% na espontaneidade”.

Aos vinte e quatro anos, após ter cumprido com o dever de cidadão francês e ser chamado às armas, perto do fim da Primeira Grande Guerra, servindo no Estado-Maior do Exército, veio para o Brasil com a esposa Lotúsia, que conhecera no front como enfermeira de Campanha, da qual ganhou uma filhinha. Aqui, no Brasil, teve diversas atividades, entre as quais se destacam a de agrimensor e gerente de circo ambulante; em um galpão alugado instalou uma fábrica de lubrificantes de automóveis, da qual era Gerente-Diretor, comprador de matéria-prima, químico responsável, operário que fazia o trabalho de produção e embalagem e, finalmente, vendedor e representante vestido de terno, até que um dia a fábrica pegou fogo... Nunca se apegou às posses materiais, desfazendo-se, quando era preciso, de tudo por “preço de banana”, para recomeçar tudo de novo. Mas sempre rigoroso e honesto com as finanças.

Estudou Kabbala, Krishnamurti, aprendeu a Magia Cerimonial e a Alquimia, estudou Martinismo, Yoga e era um Astrólogo exímio. O Dom da palavra lhe fluía elegantemente dos lábios e gostava de um copo de um bom vinho a conversar, como bom francês que era. Tinha excelente humor, respeitava as gestantes que, para ele, estavam “perto do Pai”, pois são doadoras de vida. Mas seus olhos sabiam faiscar, quando necessário. Em torno de 1932, transferiu-se para o Uruguai, instalando-se em Montevidéu, onde fundou o GIDEE (Grupo Independente de Estudos Esotéricos), trazendo junto a Ordem Martinista, organização originariamente Européia, fundada por Papus e da qual era ele o Presidente. Criou também a revista La Iniciación, que continha e refletia toda a abundância dos elevados conceitos e ensinamentos, que, no GIDEE, se ensinava por um grupo de colaboradores sob sua direção; verdadeira universidade esotérica e espiritualista transcendental: Sufismo, Yoga e Yogaterapia, Kabbala, Cristianismo Esotérico, Ciências Herméticas, Astrologia e Astrosofia, Filosofia Transcendental, Alimentação, todas as matérias do Martinismo e da Rosa-Cruz. Curas Místicas sob a orientação do MESTRE PHILIPPE, Budismo e Gnose.

Foi membro de diversas Ordens e Fraternidades Ocultas do Oriente e Ocidente. Mas, como tudo que é nascido na intensidade, que com o Amor se desgasta no Amor do coração, o GIDEE se desmorona: tinha chegado o fim de seu ciclo de existência vital. Logo passou fome ao lado de sua companheira Louise, com a qual continuou trabalhando após o falecimento de Lotúsia, a vender apólices de seguros de porta em porta, nas ruas de Montevidéu... Pouco tempo depois e em comum acordo, separaram-se e Sri Sevãnanda passa a trabalhar junto à sua nova companheira, SÁDHANA, mais apta para sua nova etapa de ação e de Iniciador. Encerra as atividades no GIDEE, liquida o passado, e vendem as posses de Sádhana para adquirir um trailer e um jipe. Veio um senhor de idade para lhe entregar um pequeno baú que continha o acervo cerimonial, intelectual e místico de uma antiga e venerável sociedade dos Himalaias, o SUDDHA DHARMA MANDALAM, pondo-o em contato com seu “Iniciador Externo”, o Guru Subrahmanyananda, de quem recebe a Iniciação e Ordenação como membro da Ordem dos Swãmis de Sri Sankaracharya, com o nome de Sevãnanda. Foi incumbido, pelo mesmo Guru, a assumir a função de “Iniciador Externo” e de ser seu sucessor no Suddha Dharma.

Ainda em Montevidéu, fundou a Associação Mística Ocidental, sob a direção do Mestre PHILIPPE, escola que se tornou um centro de União de Correntes Espirituais: Essênios, Suddha Dharma Mandalam, Rito Egípcio de Osíris, Ramakrishna Ashrama, Kriya Yoga, Yoga Ashrama, Comunidade Sufi, Satyauraha Ashrama, Ordem Martinista, Maitreya Mahasangah, Ordem Cabalística Rosae Crucis, Departamento do Verbo, Zen Boddhi Dharma, e Igreja Expectante, com contatos com os representantes de quase todas essas Correntes. Antes de mais um deslocamento, escreveu seu livro Yo que caminé por el mundo..., o qual contém a síntese de sua doutrina pessoal, reeditado em português por seus Discípulos no Brasil, mais tarde.

Em junho de 1952 partem Sevãnanda e Sádhana, dirigindo o jipe e a puxar a “Ermida do Serviço”, rumo norte a atravessar o Uruguai e Brasil, parando em todas as cidades visitadas e dando palestras públicas a divulgar sob o lema O sacrifício de Jesus e de Gandhi nos unem a todos. 

Sevãnanda e Sádhana

Em fins de 1953 chegam à Resende, RJ, onde ganham um terreno de 12 hectares e instalam o Monastério AMO-PAX. Ashram de Sarva Yoga e Mosteiro Essênio, inaugurado numa singela cerimônia na meia noite do dia 19/20 de novembro de 1953, sob insistente chuva, perante 22 presentes e um cão. O livro, contendo a Doutrina, tornasse o esteio dos ensinamentos ao novo trabalho Iniciático. Os primeiros meses foram difíceis e de intenso trabalho, quase sem apoio algum, ao instalar uma necessária infra-estrutura material de sobrevivência. Mas novos Discípulos se apresentam como candidatos a residentes, e assim a comunidade cresce. A Associação Mística Ocidental serve de Via para a preparação interior e a correspondência com diversos representantes das Correntes que constituem a Associação, do Oriente e do Ocidente. Instala-se notadamente com o Mahatma Gandhi, que nomeia Sri Sevãnanda seu representante para o Brasil, com Discípulos da Europa do Mestre Philippe e com Paramahansa Yogananda, assim como Lobsang Rampa, que naquele tempo se encontrava na Inglaterra.

O Ashram se torna conhecido no Brasil inteiro e visitantes começam a chegar também do Exterior. Jocosamente o Mestre se refere ao Ashram como a um “restaurante onde cada um dos residentes recebe o alimento que lhe agrada..., mas pena que não sabem comer!”. E, no teatro Carlos Gomes, do Rio de Janeiro, Sri Sevãnanda anuncia, perante mais de 1500 pessoas, convidadas individualmente, a criação da Ordem dos Sarvas Swãmis, que mais tarde ele mesmo comenta assim: “O continente latino-americano possivelmente ainda não percebeu a real importância que há de ter um dia, por todos esses países, aquela proclamação de Sarva Yoga e da Ordem dos Sarvas Swãmis”. Era no dia do Maître Philippe, 2 de agosto de 1954.

Os dias são longos no Ashram: começam às 4 da madrugada e terminam, após ininterrupto trabalho, às 21 horas, ou mais tarde ainda, com direito à uma hora de sono a mais aos domingos. O aprendizado é vigoroso sob a atenção de quem sabe o que faz: treinamentos da Via de Gurdjieff se revezam com as práticas da via do Maître Philippe e do Suddha Dharma, com treinamentos e práticas Martinistas e danças dos Dervixes Sufis, e exercícios de Budismo Zen. Reúnem no Ashram um grupo humano eclético sob uma vida sui generis entre brasileiros e estrangeiros de diversas origens. Os resultados práticos não demoram a se apresentar, em cada um deles de maneira individual e particular. Alguns ainda querem se casar, outros desejam alcançar a Suprema Realização, que é o Samadhi; há casais com filhos e solteiros inveterados, e há os que ainda não sabem o que querem.

Com algumas vocações que se destacam, e que constituem a continuação viva de sua via de ensinamentos, o Ashram de Resende encerra suas atividades em junho de 1961. Os residentes se dispersam, e um pequeno grupo segue com o Mestre para a cidade de Lajes - SC, onde é fundado o Retiro Alba Lucis, em um sítio de Discípulos. Terminada está a etapa cíclica septenária com a principal missão cumprida: o prolongamento da Obra por meio de alguns poucos, homens e mulheres por ele preparados, para prosseguir. Foi em Lajes onde o Mestre escreveu sua principal obra, O Mestre Philippe de Lyon, em quatro volumes, que hoje é quase uma raridade. Para estar livre e trabalhar, o Mestre tinha transferido os diversos setores da sua obra a alguns Discípulos-Sucessores, com o que pôde dedicar-se à sua vida interior, bem como da divulgação dos Ensinamentos do Maître Philippe, atitude que o acompanhou até o fim.

Terminada esta tarefa (edição dos quatro volumes), o Mestre transfere sua vida para a cidade de Belo Horizonte, onde é fechado o círculo cíclico de sua vida, passando a se ocupar com alguns dos seus mais próximos e sobrevivendo materialmente com a venda de apólices de seguro e da importação de objetos ornamentais, trazidos da Argentina. A viagem à França, pouco antes da instalação em Lajes, transformou totalmente e definitivamente seu posicionamento de homem e de Iniciado: a influência do Maître Philippe o conquistara, impelindo-o a se afastar das tradições orientais. Numa pequena chácara, a vinte minutos de Belo Horizonte, viveu seus últimos dois anos, sob os cuidados de sua Enfermeira, Anjo Guardião e fiel Discípula Sévaki. Sua saúde se alterou rapidamente; o Mestre não mais recebia visitas, excetuando-se alguns poucos Discípulos.

As últimas semanas foram de grande sofrimento, a sua doença avançando rapidamente. Durante este breve tempo, o Mestre fez, certamente, a síntese de sua vida, se preparando para a partida. Horas antes, mandara Sévaki chamar seu Discípulo Sarvãnanda, no leito de sua morte, no Hospital Nossa Senhora do Carmo, em Betim, para onde ela o levara. Sem quase nenhuma capacidade de se movimentar, o soro pingando na sua veia inutilmente e com os órgãos praticamente paralisados, mas com os olhos faiscando vivos, lúcidos e brilhantes, fez a Transferência Iniciática para Sarvãnanda. Na madrugada seguinte e com Sévaki ao lado, dia 6 de Novembro de 1970, o Mestre expirou.

A simples lápide de cor cinza-clara, aí está, no velho cemitério de Betim, rodeado do silêncio que tanto amou. Raros são os que o visitam. O mundo esquece facilmente. Entretanto, sua presença continua forte e ativa, mais poderosa do que em vida, nos corações dos que foram transformados pelos seus Ensinamentos. Ensinamentos que estão começando a brotar como flores de luz, em milhares, por meio de suas palavras escritas. A vida de Sri Sevãnanda Swãmi foi um único sacrifício de amor e de transferência. Vida dedicada aos seus semelhantes “para maior glória DAQUELE”.

“O poder do pensamento é proporcionado, ao mesmo tempo, por três fatores, que são: o conhecimento intelectual, a sabedoria experimental e a íntima aspiração. Por isso, o ser humano não pode matar a ilusão pela meditação, sem as práticas que proporcionam experiências interiores, e estas: Sabedoria. Porém, somente as práticas e suas resultantes, inclusive o Êxtase ou Samadhi, tampouco podem dar a liberação da ilusão, porque elas mesmas contêm um aspecto individual, auto-criador, porém auto-limitante. Somente uma imensa sede de infinitude, de eternidade, e de paz inalterada dará ao pensamento, enriquecido pelo conhecimento e pela sabedoria, o poder penetrante e dispersivo, atrativo e concentrador, que um esforço tenaz e sereno, mata a ilusão e outorga a paz. Em termos muito mais limitados, tal caminho visto em etapas individualizadas, nos pareceria: um inquieto que estuda, observa e se auto-observa; logo um Sarva Yogue em Japa, Dhyana e Samadhi; finalmente um Sarva Swãmi entregue à perene meditação, que realiza a verdade, fora de todas as ilusões que até a devoção, a ação e o próprio Samadhi ainda contêm”.

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