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A Iniciação de Bulwer Lytton na Tradição Rosacruz, segundo Westcott


De acordo com William Wynn Westcott, uma loja rosacruz teria permanecido ativa em Frankfurt am Main, Alemanha, no início do século XIX. A esse respeito, ele escreveu: “Em 1850, a Frankfurt Rosicrucian Lodge of Meno entrou em hibernação; foi nela que Sir Edward Bulwer Lytton foi iniciado e tomou contato com ideias que mais tarde desenvolveria em Zanoni e em outras de suas obras.”

Sabe-se que Bulwer Lytton realizou uma viagem à Alemanha entre 1841 e 1843, sendo bastante plausível que tenha visitado um grupo iniciático em Frankfurt. Assim, cabe questionar se essa “antiquíssima Loja Rosacruz” teria praticado o Rito Rosacruz de Ouro (Gold- und Rosenkreuz). Contudo, tal hipótese parece improvável, uma vez que não há evidências da atividade desse rito na Alemanha no início do século XIX.

Além disso, o próprio Bulwer Lytton escreveu ao ocultista Hargrave Jennings: “Existem razões que me impedem de tratar profundamente da fraternidade Rosacruz, uma sociedade que ainda existe, mas sob um nome que não permite ser reconhecida por quem não faz parte dela.” Essa declaração reforça o caráter reservado e esotérico da ordem à qual ele teria sido ligado.

Importante frisar que, ao contrário do que frequentemente se afirma, Bulwer Lytton nunca participou das “Sociedades Rosacruzes em Anglia” (Societas Rosicruciana in Anglia), organizadas por Robert Wentworth Little em 1866, com base no modelo rosacruciano alemão, especialmente em seus graus e estrutura hierárquica.

Poder-se-ia supor que Bulwer Lytton teria sido iniciado em uma sobrevivência da Ordem dos Irmãos da Ásia, ativa na região de Frankfurt — onde, aliás, residia Hirschfeld —, especialmente considerando que seu nome é, por vezes, associado ao surgimento, no final do século XIX, de uma nova ordem intitulada Fratres Lucis (seria este outro nome para os Irmãos Asiáticos?). Essa hipótese é possível, embora faltem elementos concretos que a sustentem.

De fato, ao investigarmos os círculos ocultistas de Frankfurt am Main na primeira metade do século XIX, nos deparamos com uma loja maçônica independente, enraizada na tradição iluminista, a qual pode ter sido o verdadeiro ponto de partida da trajetória iniciática de Bulwer Lytton.

Em 1814, o major Christian Daniel von Meyer — importante figura da faculdade de Estrasburgo dos Cavaleiros do Poço da Cidade Santa (associada ao Rito Escocês de Willermoz) — estabeleceu-se em Frankfurt am Main. Lá, deu início a um círculo iniciado por diversas personalidades notáveis, entre elas: seu sobrinho, o senador Johann Friedrich von Meyer, teólogo e estudioso do hermetismo; o burgomestre Wilhelm von Metzler; o advogado M. Kloss; Johann Peter von Leonhardi, Grande Mestre Provincial do Rito Inglês; o doutor Georg Kloss, renomado escritor maçônico; e, por fim, o professor Franz Joseph Molitor, teósofo cristão e cabalista.

Esse círculo místico obteve do príncipe Carlos de Hesse — que atuava como Grão-Mestre Geral da antiga observância rigorosa dos Templários — uma patente para fundar uma loja denominada Carlos da Luz Radiante (em alemão, Karl zur Eintracht), vinculada à tradição do Rito Retificado.

Segundo Findel, nos graus superiores dessa loja ensinava-se a metempsicose (transmigração das almas), sendo declarado que o objetivo último da maçonaria era o contato íntimo com os espíritos, com Cristo e com Deus. Em uma circular datada de 1821, afirmava-se explicitamente: “O misticismo e a magia são o único objetivo verdadeiro.


Adaptado do texto 1939.

Frater A.E.L. M∴M∴ S∵I∴L∵I∴ Ch† R✛C XII°


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