Louis-Claude de Saint-Martin, conhecido como o “Filósofo Desconhecido”, ensinava que cada ser humano possui ao seu lado um bom anjo, chamado por ele de “anjo amigo”. Esse ser espiritual é concedido por Deus como um companheiro invisível que acompanha a alma ao longo da vida, protegendo-a, inspirando-a e conduzindo-a no caminho de volta à sua origem divina. Para Saint-Martin, o anjo amigo não é apenas um guardião, mas também um mensageiro da luz, cuja missão é recordar ao homem que ele traz em si uma centelha espiritual que deve ser despertada e reintegrada a Deus.
A ação desse anjo, contudo, não é impositiva. Ele age de forma discreta, iluminando os pensamentos, fortalecendo nas provações e conduzindo suavemente ao bem. Cabe ao ser humano, pela oração interior, pela pureza de intenção e pela prática da virtude, abrir-se à sua influência. Quanto mais a alma se afasta dos vícios e se volta à contemplação, mais apta se torna a sentir a presença de seu anjo amigo e a perceber suas inspirações.
Saint-Martin também advertia para a necessidade de discernimento, pois existem forças enganosas que podem se apresentar sob aparência luminosa. A diferença essencial, segundo ele, é que a presença do bom anjo sempre traz paz, clareza e um chamado ao bem, enquanto as influências inferiores produzem orgulho, perturbação ou confusão. Assim, o anjo amigo pode ser reconhecido pelo efeito que causa no coração e pelo alinhamento de suas inspirações à vontade de Deus.
Em suma, o bom anjo amigo, para Saint-Martin, é uma presença constante e silenciosa que reflete em nós a luz divina. Ele se manifesta mais claramente àqueles que cultivam humildade, devoção e amor verdadeiro a Deus, servindo como guia seguro na jornada espiritual de reintegração da alma ao Criador. Como observamos o contato com Anjos e Amigos Espirituais precedem a descida do Divino em nós em uma comunhão perfeita da Cruz que representa o encontro entre o imanente e o transcendente, seja na tradicao oriental ou ocidental.
A Anacrise é um método teúrgico de comunicação com o Anjo da Guarda, que consiste em um ritual de orações dirigidas a Deus e aos seus anjos. Nessa prática, o operador faz perguntas, chamadas interrogações mágicas, e as respostas costumam ser recebidas durante o sono, no chamado método da incubação. Essas respostas podem se apresentar de forma direta e objetiva, de maneira simbólica ou subjetiva, ou ainda por intermédio de outras pessoas. A clareza e a utilidade da experiência dependem principalmente da capacidade de interpretação do praticante e, sobretudo, de seu discernimento para distinguir o que vem de Deus e dos anjos do que pode ser engano demoníaco. Além disso, o ritual leva em conta dados astrológicos para determinar o momento mais apropriado para ser realizado. O tratado foi escrito pelo eremita Pelagius, da ilha de Maiorca, no século XV, e foi dedicado a seu discípulo Libanius Gallus, filósofo francês e mestre de Tritêmio, que, por sua vez, foi mestre de Cornelius Agrippa.
Segundo o autor, a Anacrise é destinada apenas àqueles que buscam a Deus com prudência e pureza de coração, pois esse conhecimento pode levar tanto ao caminho divino quanto ao demoníaco, dependendo da disposição interior do praticante. Por isso, quem se propõe a seguir esse caminho deve examinar seriamente a própria consciência, já que os desatentos, orgulhosos ou dominados pelo vício podem acabar na perdição espiritual, na loucura ou até na cólera divina. Apenas os que vivem em oração contínua, com humildade, fé sincera e intenção pura, estão preparados para se aproximar dessa ciência sagrada. O praticante deve desprezar a vaidade, amar a contemplação e elevar constantemente o coração a Deus, buscando auxílio por meio de seu anjo da guarda. É necessário afastar-se do pecado e de más companhias, cultivar virtudes contrárias aos vícios e, sobretudo, manter o espírito em estado de pureza e devoção, pois somente assim se torna possível a familiaridade com o anjo.
O ensinamento afirma que Deus concedeu a cada ser humano um Anjo da Guarda invisível, que guia, governa, protege contra males e apresenta a Deus nossas orações e boas obras. Durante a vigília, devido às distrações do mundo e às paixões da carne, não conseguimos percebê-lo claramente, mas durante o sono a alma está mais livre e receptiva, tornando-se capaz de receber suas inspirações. Quando o ser humano se mostra digno, o anjo pode revelar segredos divinos, despertar dons proféticos, iluminar a mente com conhecimentos ocultos e proteger o espírito contra o domínio dos desejos terrenos. Entretanto, quem permanece preso ao pecado ou à ilusão nunca alcançará a verdadeira presença do seu anjo.
O caminho, porém, não é isento de dificuldades. Muitos desistem quando as respostas não correspondem às suas expectativas, e outros se deixam enganar por ilusões, já que os anjos malignos tentam se opor aos bons, imitando a luz para confundir os incautos. Por isso, o praticante deve permanecer firme, vigilante e prudente, pedindo sempre apenas coisas boas e puras, nunca motivos egoístas, profanos ou maléficos. A Anacrise, afinal, não depende da força ou da vontade humana, mas unicamente do poder de Deus, que responde de acordo com a sinceridade da fé e a pureza da intenção. A oração deve ser acompanhada de um desejo ardente e perseverante, que insista com humildade e confiança até alcançar resposta, pois Deus não se impressiona com palavras elaboradas, mas com a devoção do coração.
A preparação para a prática inclui jejum, abstinência sexual no dia anterior, oração de arrependimento e firme propósito de emenda. Se o anjo não se manifestar nos primeiros dias, é necessário repetir o exercício com paciência e fé, pois a constância e a intensidade do desejo espiritual aumentam a força da operação. O progresso da experiência segue três graus: no primeiro, o anjo é visto em sonho; no segundo, é visto acordado; e no terceiro, não se tem visão, mas uma elevação interior profunda, pela qual o espírito é iluminado diretamente pelo anjo. Esse último é considerado o grau mais perfeito da operação.
Dessa forma, o valor da Anacrise não está na forma das palavras, mas no zelo, na fé e na pureza da intenção com que se ora. Pode-se rezar em qualquer momento, mas é mais propício realizá-la à noite, em recolhimento e silêncio, quando o espírito se encontra livre das distrações do mundo. Quem se dedica a essa ciência deve fazê-lo com devoção constante, humildade verdadeira e confiança absoluta na misericórdia de Deus, sabendo que a comunicação com o anjo é um dom divino, alcançado apenas pelos que unem perseverança, pureza e amor sincero ao Criador.
Frater A.E.L. M∴M∴ S∵I∴L∵I∴ Ch† R✛C XII°
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