A criação, segundo Boehme, é uma emanação do próprio Deus: o universo e todas as criaturas surgem a partir de sua essência divina. Tudo o que existe contém um duplo impulso, bom e mau; nada há na natureza que não possua essa dualidade fundamental. O bem e o mal são forças necessárias e complementares, cuja tensão dá movimento à vida. Essa concepção dual está presente em toda a sua cosmologia e expressa o dinamismo entre luz e trevas, amor e angústia, espírito e matéria.
Boehme denomina de Spiritus Mundi o espírito do mundo, uma força anímica universal que influencia os movimentos coletivos, religiões e sistemas humanos. O verdadeiro sábio, porém, deve libertar-se dessa energia para alcançar o espírito divino, que transcende o condicionamento terreno. Em sua doutrina, apresenta três princípios que correspondem aos fundamentos da realidade: o princípio das trevas, relacionado à rigidez e à angústia; o princípio da luz, que expressa o amor divino; e o princípio da harmonia, que reconcilia os dois opostos e manifesta a unidade divina.
Além disso, Boehme descreve as sete qualidades ou espíritos-fontes — acerbidade, doçura, amargor, calor, amor, som e corpo — que representam energias intermediárias por meio das quais Deus se manifesta na criação. Essas forças sustentam e movimentam tanto o mundo espiritual quanto o material, formando uma cosmologia simbólica em que o ternário e o setenário interagem como princípios complementares. Para Boehme, a criação é o processo pelo qual Deus se torna consciente de si mesmo.
Sua experiência mística fundamenta toda a sua obra. Boehme relata ter vivido quatro iluminações, sendo a primeira marcada por sete dias de contemplação divina. Essas experiências o conduziram à escrita de “Aurora Nascente”, obra composta sob revelação direta. O conhecimento místico, em sua visão, não se obtém por estudo racional, mas pela iluminação interior concedida pelo Espírito Santo. Assim, o método do verdadeiro conhecimento é a revelação direta, que exige humildade e desapego intelectual.
O pensamento de Boehme exerceu profunda influência sobre filósofos, teólogos e cientistas como Leibniz, Newton, Schelling, Hegel, Saint-Martin e Franz von Baader, além de inspirar tradições esotéricas ocidentais, como as ordens rosacruzes e martinistas. Sua teosofia uniu misticismo cristão, filosofia e simbolismo natural, propondo uma interpretação espiritual da alquimia e da natureza.
A mística de Jacob Boehme propõe uma visão simbólica e dinâmica do cosmos, onde Deus, natureza, bem e mal estão interligados em um processo dialético de revelação e reconciliação. Trata-se de uma teosofia que busca compreender o mistério da vida como um movimento contínuo de emanação e retorno ao divino, acessível apenas ao coração iluminado pela experiência direta com o Absoluto.
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